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9.26.2008

Lula na ONU:“É chegada a hora da política”




O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (23) em Nova York, na abertura da 63ª Assembléia Geral da ONU, que a crise financeira mundial é uma dura realidade e a euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos. “As indispensáveis intervenções do Estado, contrariando fundamentalistas do mercado, mostram que é chegada a hora da política”, disse o presidente. E alertou que somente a ação determinada dos governantes será capaz de combater “a desordem que se instalou nas finanças internacionais com efeitos perversos na vida cotidiana de milhões de pessoas”.

De acordo com o presidente, a ausência de regras favorece os aventureiros oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores. “A economia é séria demais para ficar nas mãos dos especuladores e a ética deve valer também na economia. É inadmissível, dizia o grande economista brasileiro Celso Furtado, que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e suas perdas, invariavelmente socializadas”.

Reformas – O presidente brasileiro defendeu a reestruturação das instituições financeiras globais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird), para que sejam mais representativas do peso das economias emergentes. “Os organismos econômicos supranacionais carecem de autoridade e de instrumentos práticos para coibir a anarquia especulativa. Devemos reconstruí-los em bases completamente novas”, enfatizou.

Lula defendeu também reformas na ONU. “As Nações Unidas discutem há 15 anos a reforma do Conselho de Segurança. A estrutura vigente, congelada há seis décadas, responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo. Sua representação distorcida é um obstáculo ao mundo multilateral que todos nós almejamos. O multilateralismo deve guiar-nos também na solução dos complexos problemas ligados ao aquecimento global, com base no princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas. O Brasil não tem fugido a suas responsabilidades. Nossa matriz energética é crescentemente limpa”, lembrou.

Muros – O presidente salientou que a queda do Muro de Berlim representou a possibilidade de construir um mundo de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria. Mas outros muros foram se construindo com enorme velocidade. “Muitos dos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas, e até fascistas, que nos fazem evocar, temerosos, tempos que pensávamos superados”. Assim, um suposto “nacionalismo populista”, que alguns pretendem identificar no Sul do planeta, é na verdade praticado sem constrangimento por países ricos.

“As crises financeira, alimentar, energética, ambiental e migratória, para não falar das ameaças à paz em tantas regiões, demonstram que o sistema multilateral deve se adequar aos desafios do século XXI. Aos poucos vai sendo descartado o velho alinhamento conformista dos países do Sul aos centros tradicionais”, disse. Para ele, no entanto, essa nova atitude não conduz a uma postura de confrontação. Os países em desenvolvimento têm preferido optar pelo diálogo direto, sem intermediação das grandes potências, desta forma se credenciando a cumprir um novo papel no desenho de um mundo multipolar. Como exemplos, citou iniciativas como o Ibas, o G-20, as cúpulas América do Sul-África ou América do Sul-Países Árabes e a articulação dos Brics.

Biocombustíveis e fome – O presidente Lula criticou a tentativa de associar a alta dos alimentos à difusão dos biocombustíveis. “As crises alimentar e energética estão profundamente entrelaçadas. Na inflação dos alimentos estão presentes – ao lado de fatores climáticos e da especulação com as commodities agrícolas – os aumentos consideráveis do petróleo, que incidem pesadamente sobre o custo de fertilizantes e transporte”. Para ele, a experiência brasileira comprova que o etanol de cana-de-açúcar e a produção de biodiesel diminuem a dependência de combustíveis fósseis, criam empregos, regeneram terras deterioradas e são plenamente compatíveis com a expansão da produção de alimentos.

Setembro/2008